terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Primeira Viagem solo de moto - 26/12/13 a 11/01/14


Depois de começar a andar de moto (nov/12) e ficar viciado em passeios, tinha vontade de fazer uma viagem grande de moto... a princípio ir até a casa de uma amiga que mora em Juiz de Fora/MG que fica a 500km da capital.
Planejei diversos trajetos, paradas, pesquisei sobre lugares pra ir de moto, mas fui deixando essa vontade em suspenso, viajar de moto sozinho me causava medo.
Chegam as férias de julho, mas vou inventando desculpas pra não viajar sozinho.
Acabei trocando a Citycom 300i por uma Triumph Tiger 800XC, pois no passeio que fizemos pra Extrema/MG a City parecia que ia desmontar numa estrada de terra e vi que eu precisava de uma moto que pudesse enfrentar qualquer tipo de terreno.
Em outubro/13 me dei a Tiger de presente, que batizei de Trator... primeira moto com marchas, grande, pesada...enfim, uma loucura fazer isso, mas tive que encarar!
Adaptação difícil, embreagem, marchas, peso. Viajei com amigos pra Penedo/RJ, um bate e fica, e senti o drama de não dominar a máquina, viajei tenso e tudo era tenso pra mim!
Depois de rodar 3000km com ela em passeios, resolvi planejar a viagem solo. Queria passar o Reveillon com minha amiga em Juiz de Fora, mas também percorrer TODAS as serras "motociclísticas".
Percurso de ida:
 
26/12 a 28/12 - Paraty/RJ
28/12 a 02/01 - Juiz de Fora/MG - via RJ 115
02/01 a 03/01 - Pouso Alegre/MG
03/01 a 04/01 - Capão Bonito/SP
04/01 a 05/01 - São José dos Pinhais/PR - Via Serra do Rastro da Serpente
05/01 a 07/01 - São José/SC
07/01 a 08/01 - Urubici/SC - Via Lauro Muller- Serra do Rio do Rastro
08/01 a 09/01 - Blumenau/SC
09/01 - 10/01 - Curitiba/PR
 

Percurso de volta:
 
09/01 a 10/01 - Curitiba/PR
10/01 - Morretes/PR - Estrada da Graciosa
10/01 a 11/01 - Capão Bonito - Parcial da Serra do Rastro da Serpente
11/01 - São Paulo.
Total de 3600km

O medo ainda me dominava, eu não me sentia 100% seguro com a moto. Enrolei bastante pra começar a ver hotéis, pousadas...
Difícil isso, queria tanto arranjar alguém que fosse junto! Mas nada feito...
O jeito é começar a fazer as reservas.

E agora começa o relato...

Antes da viagem


Depois de definido o percurso e estabelecido as datas, pesquisei hotéis e pousadas utilizando o Decolar.com e o Booking.com (alguns hotéis e pousadas só constam em 1 deles). O critério de escolha: ter estacionamento, café da manhã e estar na faixa entre R$100,00 e R$200,00. A minha sorte foi que no período do Reveillon eu estaria na casa da minha amiga, caso contrário as diárias extrapolariam o valor que eu pretendia gastar com hospedagem. Falo dos hotéis/pousadas conforme relato sobre as cidades.

Bagagem...ah que desgraça! Sempre fui daquelas pessoas que viajam com a casa nas costas... só que agora, de moto, tudo vai ter que ser repensado e o exercício de desapego terá que ser constante.
Meu bauleto tem 55l e uma outra mala iria amarrada ao banco do garupa... e começa a busca por malas, mede uma, mede outra...pesquisa aqui, pesquisa ali... quase caí de costas com o preço das malas impermeáveis grandes pra moto! Terei que me virar com o que tenho em casa!
A mala do bauleto estava decidida, pois ela não podia ocupar todo o espaço pq tem a capa de chuva e as peças de frio que ficam na moto e precisavam ficar com acesso mais rápido.
A outra mala foi um "click", olhei uma mala de bordo expansível com rodinhas que eu uso em viagens de avião e pensei: "será que o espaço entre as rodinhas encaixam no banco do garupa?". Levei a mala até a moto e VOILÁ! Encaixou certinho! E a altura dela fica na altura do bauleto! UAU! Não precisei gastar os tubos com isso!
As roupas precisavam ser do tipo "easy care", fáceis de lavar, de secagem rápida e sem necessidade de passar.
Adaptadores de tomada, extensão, Ts (parece exagero, mas alguns hotéis tem só uma ou 2 tomadas no quarto e a gente tem trocentos aparelhos que precisam recarregar). Carregadores de todos os gadjets.
Coisas de quem já ficou nesse pula-pula de uma cidade pra outra em viagem: Omo líquido pra lavar as roupas, corda de varal, pregadores, 2 ganchos de sucção e 2 S de metal pra prender nas portas. Acrescentei Lysoform spray pra passar na Jaqueta, Calça e Botas que uso pra andar de moto.
Os ítens de higiene pessoal foram colocados em frascos menores (alguns hotéis só oferecem sabonete).
Acondicionei todas as roupas em sacos a vácuo manuais pra diminuir o volume (Space Bag To Go).
Barras de cereal e pequenos snacks pra comer a noite caso tudo feche nas cidades e eu não tenha onde comer (me salvaram algumas vezes).
Mas mesmo assim tive que retirar várias peças de roupa pq não cabiam nas malas. Algumas peças de frio eu levei por precaução (não usei nenhuma), pois já passei frio em janeiro. Enfim, refiz as malas umas 3 vezes até que tudo coubesse nos 2 volumes.
Imprimi o nome, endereço e telefones dos hotéis pra colocar no visor da bolsa de tanque da moto (essa precaução foi ótima!).
Sacos de lixo grandes e grossos pra embalar a mala que ia ficar no banco.
Na noite anterior à partida, já deixei a mala maior amarrada na moto pq ia sair cedo, antes dos assaltantes da Rod. dos Imigrantes acordarem.

Ansiedade me matando! Não conseguia dormir! Meu DEUS, que medo desgraçado! Não domino a moto 100%, vou pra lugares que nunca fui e dependendo do GPS pra chegar! Que loucura é essa?!
Olho no relógio...2h30 da madrugada!!!

26/12 - São Paulo - Bertioga - Paraty - 350km


Madruguei às 6h com previsão de sair às 6h50, coloquei a segunda mala no bauleto e comecei a rever as amarras da mala que estava presa ao banco... resolvi amarrar de outro jeito pois achei meio solta demais, perdi um tempão resolvendo isso e acabei saindo às 7h10.
Subo na moto e começo a manobrá-la na garagem pra sair...caraca ela tá ainda mais pesada por causa da bagagem! Mas pelo menos baixou uns 2 cm!
Ajusto o GPS pra me levar pra Paraty, mas com parada em Bertioga.
Imigrantes ainda vazia e já no Frango Assado uma neblina leve se fazia presente e me acompanhou até o final da serra.
8h00, chego em Bertioga e paro pra comer no Pastel do Trevo. Céu limpo, sol brilhando.
Por causa do meu ajuste no GPS, ao invés de pegar a estrada e seguir pra Paraty, ele me encaminha para o centro de Bertioga! (Que burro, dá zero pra mim!).
Aproveito a "caca" e paro num posto pra abastecer, reajustar o GPS para o destino sem paradas "extras" e tomar uma água... o calor estava infernal!
Estrada cheia, alguns pontos parados, o bom de estar de moto é que dá pra ir se esgueirando e prosseguindo.
Em alguns trechos o GPS enlouquece e acha que eu estou "sei lá aonde" e quer que eu vá aonde já estou. Com tantas obras muitas rotatórias viraram retas e foi constante ouvir o GPS dizer pra pegar a segunda saída de uma rotatória que não existia mais.
O ruim de seguir pela Rio-Santos é que ela passa pelo meio das cidades e o trânsito atrapalha bem, cheguei em Ubatuba as 13h15 e parei pra comer alguma coisa, calor insuportável, acabei só beliscando um pão de queijo e tomando 1litro de isotônico. Abasteci mais uma vez e rumei sem paradas até Paraty.
Cheguei em Paraty as 15h... o GPS me colocou na altura errada da rua, ainda bem que tinha olhado como era a rua no Street view e logo localizei a pousada.  
Pousada e Ponto -Rua Oscar Pinto da Silva 03, Pontal.

Ela fica no meio de tantas outras pousadas na mesma rua sem saída, estacionamento interno.
O próprio dono me atende do lado de fora, me chama pelo nome e já abre o portão para que eu estacione a moto (por isso é bom fazer reserva antes).
Local bem ajeitado, instalações novas e AR-CONDICIONADO! Era TUDO que eu precisava depois de pilotar por horas sob o sol escaldante! Uma pena não ter frigobar!
Abro as malas, coloco roupas leves, lavo a balaclava e a camiseta segunda pele de verão (isso virou praxe, pois essas peças ficam impregnadas de sujeira da estrada) e vou até o centro pra procurar algum lugar pra comer...afinal estava praticamente sem almoçar.
Esse é o lado "mais novo" de Paraty


Do outro lado da ponte é o Centro Histórico

Ou você olha onde pisa ou perde a tampa do dedão nessas pedras!



O Centro Histórico é bonito, o piso de pedras demandam cuidado pois quase perdi a tampa do dedão do pé andando sem prestar atenção. Prédios bem preservados, mas tudo bastante caro.
Comi um sanduíche vegetariano, caminhei mais um pouco e voltei pra pousada.
Terminei de ajeitar as coisas e me recostei na cama, poxa...cheguei até aqui!
A noite, saí pra caçar um lugar pra jantar, tem muitos restaurantes, a cidade estava cheia! Entrei numa cantina pedi uma massa... nossa! Demorou quase 1 hora pro prato ficar pronto! Pra quem é de São Paulo essa espera é quase a morte! Ainda mais pra quem tá sozinho!
Faço mais uma caminhada, a cidade é BEM agitada a noite! Mas tendo dormido pouco na noite anterior, o que eu queria era cama!
Voltei pro hotel, tomei um banho e capotei!

 

27/12


Acordei cedo, tomei o café da pousada, bem variado, mas nada suntuoso. E fui até a praia que ficava ali perto.

Ficar o dia inteiro na praia?! Não... resolvi caminhar um pouco mais pra ver o que tinha de interessante pra fazer... até que encontrei o porto das escunas, são dezenas de escunas, as maiores com passeios tradicionais, as menores com trajetos mais alternativos... sinceramente fui vendo as que tinham menos crianças a bordo - me chamem do que quiser, mas os pais não ensinam mais limites para seus filhos, e eu não estava nem um pouco disposto a ficar enfurnado num barco com crianças tocando fogo na embarcação enquanto os pais apreciam a paisagem. Embarcação média escolhida - os preços são os mesmos praticamente e eles servem refeição a bordo por um preço exorbitante (vai passear de escuna? Leve lanche ou algo pra almoçar!).
O comandante da embarcação vai contando as histórias das ilhas e da própria cidade.


Esta é a praia particular do dono de um antigo estúdio de filmes, se não me engano a Vera Cruz, a foto está distante mas tem 2 King Kongs no meio das árvores.

Paraty era uma cidade fortificada de onde saíam e chegavam riquezas minerais, algumas ilhas possuem muros de pedra e canhões.


Parada em uma pequena ilha para mergulho. Foi feita uma segunda parada para mergulho na ilha da Família do Amyr Klink.


Retorno ao cais as 17h, congestionamento de escunas!

Depois do passeio, retornei pra pousada pra tirar o sal do corpo e fui aproveitar o agito no centro pra jantar.

A cidade já estava lotada por causa do Réveillon. A bateria da escola de samba da cidade fez sua apresentação no centro histórico, eu nunca tinha visto um maestro de bateria regendo, é lindo de ver! Pois a gente acha que é tudo uma coisa só, e quando vê o maestro regendo é que nota todas as mudanças, entradas e paradas dos instrumentos.
Encontro uma creperia de 2 francesas, lugar simpático e mais uma vez, HORAS de espera pelo prato! Mas o crepe é delicioso!
Devidamente jantado, hora de voltar pra pousada, arrumar as malas e preparar pra partir.
Eu deveria ter ficado 2 noites em algumas cidades pra poder aproveitá-las como fiz aqui em Paraty.

28/12 - Paraty - Juiz de Fora - 350km


Acordei cedo, tomei café, sol forte e calor... amarrei as malas na moto e voltei pro quarto pra me refrescar (essas roupas de moto esquentam como o inferno debaixo do sol!). Saí de Paraty as 10h40.

Segui pela Rio-Santos e depois RJ155 que estrada boa pra andar de moto! Muitas curvas, asfalto bom... de repente o asfalto acaba e vem um piso de paralelepípedos - "putz...será que vai ser toda assim?!" e eis que surge um túnel escavado na pedra, sem luz, com o piso molhado... eu só conseguia ver a saída do túnel e o reflexo do piso molhado! Por sorte nenhum carro vinha no sentido oposto pq cruzei o túnel pelo meio da pista! Quase me borrei todo!
Depois do túnel o asfalto volta, e pude notar que é padrão, o asfalto acaba, aparece um túnel escuro e depois o asfalto volta.

Em Piraí acabei pegando uma rua errada e acabei indo pra Barra do Piraí, sol escaldante, até o vento na estrada tava quente!
Parei em Barra do Piraí pra abastecer e comer alguma coisa. Foi dureza encontrar um lugar com sombra! Bunda doendo, calor e nenhuma sombrinha pra parar e esticar as pernas! Achei um posto de gasolina e do outro lado da rua um bar, acabei comprando só água, não tinha nada decente pra comer! Meu almoço foram 2 barras de cereais! Com o calor que estava não tinha ânimo pra comer nada!
Semi-refeito, prossegui, cheguei na Rodovia Lúcio Meira (essa eu já conhecia de carro!), um novo ânimo pois sabia que estava mais próximo e dava pra desenvolver maior velocidade.
E o absurdo de pagar de moto, o mesmo preço que carro no pedágio! Como assim?!
Vejo que choveu em algumas partes - ah que delícia o vento fresco do pós chuva depois de derreter no sol por tantas horas!
Pego uma chuva fraca de 5 minutos...nem reclamei, foi um bálsamo naquele dia quente! Nem molhou a roupa direito!
E finalmente as 16h55 chego na casa da minha amiga! Ainda bem que eu já conhecia o caminho pq o GPS tava me levando sei lá pra onde em Juiz de Fora.

28/12 a 02/01 - Juiz de Fora


Esse período foi só de curtição, piscina, conversas e risadas, nem encostei na moto.
Réveillon com os amigos. Feliz 2014!

02/01 - Juiz de Fora - Pouso Alegre - 360km


Saí de JF às 11h, sol e calor novamente, mais um trajeto longo! Estrada tranquila mas o vento também estava quente, parei em São Gonçalo do Sapucaí pra abastecer e tentar comer alguma coisa... e por conta do calor, só consegui beliscar um salgado e tomar litros de água.
As 16h chego em Pouso Alegre.

Hotel Ferraz - Praça Doutor Garcia Coutinho, 14

Embico a moto no estacionamento e vejo uma rampa de descida curta muito inclinada e com uma parede a poucos metros do final... eu com minha "vasta" experiência e sem alcançar os pés inteiros no chão, desci a rampa com o c* na mão. UFA! consegui estacionar sem incidentes!
Calor infernal, o quarto pequeno e não tem ar-condicionado... mas tem ventilador de teto.
Coloco roupas frescas, lavo a balaclava e camiseta, penduro todas as roupas de moto pra secar e vou bater pernas, procurar algo pra comer e bebidas pra viagem do dia seguinte.
O bom do hotel ser no centro é que tem tudo perto, mas pega-se trânsito e tudo fecha às 18h. Ainda bem que cheguei a tempo de pegar o comércio aberto.

Exausto, tomo um banho e vejo que na mesa do quarto tem folheto de delivery e os preços são bem razoáveis... que maravilha não ter que caçar lugar pra jantar aberto! Comi no quarto mesmo.

03/01 - Pouso Alegre - Capão Bonito - 415km


Manhã seguinte, rotina que se tornaria praxe, tomar café, terminar de fechar as malas, carregar a moto, tomar "a fresca" no quarto (pq dá um suadouro amarrar a bagagem com a roupa quente de moto), fazer o check-out e partir.
Saio as 10h05, sol e calor, mais um trajeto longo, vento quente na estrada, paro as 12h pra "almoçar" em Itapira - beliscar um salgado e tomar litros d'água.
Bunda doendo, mãos incomodando e bexiga explodindo... paro perto de Itú pra alongar, fazer um pips, tomar água e ficar um pouco na sombra, o sol estava implacável! Faltam 170km ainda!
Entro na Raposo Tavares e depois de Sorocaba vejo nuvens de tempestade e relâmpagos à frente...começo a rezar para que essa tempestade vá pra longe!
Mas não foi... começo a sentir algumas rajadas de vento e passo por alguns pontos na estrada que já choveram, que delícia! Parece que ligaram o ar-condicionado no máximo, ventão gelado é uma benção depois de tanto calor!
Só que as rajadas de vento começaram a se transformar em ventos laterais absurdamente fortes a ponto d'eu sentir o vento empurrar as rodas pra lateral e a moto inclinar, fazer curvas com essa ventania foi um martírio! Ainda bem que a estrada estava vazia pois eu não conseguia fazer as curvas usando uma pista só tamanha a ventania. Tenso! Muito tenso!
Velocidade reduzida, tentando manter a moto estabilizada... começa a chover! Tudo descampado! Alguns km à frente vejo um viaduto, paro e espero o temporal passar. Já estava todo molhado, colocar a capa de chuva naquele estado era uma bobagem.
A chuva diminui e sigo viagem, a ventania acabou, mas a chuva fraca continua.
Quando entro na Rodovia Francisco Alves Negrão, a chuva para e consigo aumentar a velocidade e sinto que boa parte da roupa começa a secar.
De repente o GPS avisa: "Você chegou ao seu destino". Paro a moto no acostamento, NADA do lado direito, um posto de gasolina do lado esquerdo e uma rua de terra ao lado do posto... "Será que é ali?! Não tem placa nenhuma!". Entro no posto e pego a tal rua de terra... nada, faço meia volta e volto pra estrada. "Tem que ser por aqui, pelo GPS estou no endereço certo." Sigo devagar mais pra frente, vejo comércio, lombadas e enfim avisto a placa do hotel! UFA! São 16h50.

Hotel Passarim - Av. Capitao Calixto de Almeida, 187

O Hotel é um oásis de tranquilidade, quarto enorme, com varanda, frigobar e ar-condicionado.






Sem muita energia pra explorar o entorno, resolvi jantar no restaurante do hotel, comida muito boa, preços razoáveis.
Ar-condicionado e secador de cabelos foram meus aliados pra secar as roupas de moto que estavam úmidas ainda, estiquei o varal por onde foi possível e pendurei todas as roupas.
Separei as peças do dia seguinte, guardei as roupas sujas e fechei a mala maior. Deixei 2 sacos à vacuo pequenos pra guardar o pijama e a "roupa do café da manhã" pra fora pois eles iriam servir de "calço" pra mala maior que ficava inclinada pra frente por conta da inclinação do banco do garupa e ficava encostando nas minhas costas, com o calço ela iria inclinar pra trás e encostar no bauleto, abrindo mais espaço pra eu esticar os braços durante a viagem.

 

04/01 - Capão Bonito - São José dos Pinhais - 275 km


Rotina de praxe - café (nada suntuoso ou variado, mas bom), malas, fresca e check-out... tempo fechado, garoa intermitente o que me levou a enrolar um pouco pra sair.
10h30 resolvo sair com a intenção de fazer a Serra do Rastro da Serpente e ir até Morretes pra pegar a Graciosa.
As curvas são alucinantes! MUITAS, de todos os ângulos e tipos! Só que com a garoa que ia e vinha acabei não conseguindo boas fotos da câmera que tava presa na moto tirando fotos em time lapse.
12h28 - chego em Apiaí, tempo fechado, preciso almoçar.
Nessa parada encontro um pequeno grupo de motociclistas com suas esposas, fazia tempo que não cruzava com nenhum estradeiro! Eles saem logo após minha chegada. 


Vou passando pelo centro mas não encontro nenhum lugar onde eu achasse seguro parar a moto cheia de bagagens pra almoçar, sigo em frente.
No caminho vejo que o grupo de motociclistas com as esposas pararam em um local pra desamassar as bundas, ao passar por eles, me cumprimentam, retribuo...poxa...isso é tão bacana nesse mundo das 2 rodas!
Milhões de curvas depois, paro em Bocaiúva do Sul, torto de fome. Abasteço a moto, engulo 2 barras de cereal, alongo e sigo em frente.
Depois de km rodando praticamente sozinho na estrada, cruzo com um motociclista subindo a serra e recebo o tradicional cumprimento com a mão, retribuo e meus olhos enchem d'água. É emocionante se sentir "pertencendo" a alguma coisa recebendo cumprimento de um estranho pelo simples fato de estar viajando de moto...aquece o coração!
Acabei desistindo de seguir até Morretes, pois iria chegar em São José dos Pinhais à noite, achei melhor deixar para a volta, pois eu já sabia onde e como era o hotel.
Pra variar o GPS me faz dar uma volta enorme num caminho que deveria ser uma reta só em Curitiba!
Trânsito pesado, e começo a ficar assustado, o hotel fica num bairro horrível... e o GPS apronta mais uma, me aponta um retorno que indica que o hotel fica em frente... pego o retorno e não tem hotel nenhum ali! *&#$@! Começo a voltar na avenida e nada, daí vejo que ela muda de nome, preciso voltar, pego outro retorno e vou seguindo... o endereço é esse, só preciso achar o hotel... e o encontro no retorno SEGUINTE ao que apontou o GPS.
16h34 entro no hotel. Ainda bem que abortei Morretes! Chegar a noite ali ia ser um terror!


Bristol Portal do Iguaçu Hotel - Rua Velci Bolívar Grandó, 645

Quarto pequeno, longe de tudo, vou ter que comer por ali mesmo, tem serviço de quarto com preços decentes e um restaurante no hotel. Peço no quarto mesmo. Frio! Vista para um terreno baldio. Lavo as segundas pele e penduro as roupas de moto, ligo o ar pra secar. Peço a comida e já preparo as coisas pra sair na manhã seguinte.
Hotel bom só pra pouso mesmo, desde que se compre tudo o que precisa comer e beber antes.


05/01 São José dos Pinhais - Joinville - São José/SC -  290km


Como praxe, tomei café no restaurante do hotel que fica num bloco anexo, bom, bem variado, bagagem, fresca e partir, o tempo está feio, frio, com garoa intermitente.
11h03 saio rumo à Joinville onde queria almoçar, o GPS faz um caminho confuso, mas consigo chegar na Rodovia Prestes Maia, cheia de caminhões, radares aos montes e as assustadoras placas que advertem que caminhões capotam facilmente. A garoa fica mais forte e vira chuva, paro num posto pra colocar a capa de chuva e prosseguir. Vento gelado, e vejo que a pista de subida da serra tá toda parada! Domingo, o pessoal deve estar retornando do recesso, ou algo assim.
Finalmente vejo as placas de Joinville, pego a saída que leva pro centro e pra minha surpresa está tudo fechado! Depois me falaram que até os restaurantes fecham pro almoço! Não pensei que uma cidade turística fechasse num domingo, ainda mais no centro. Enfim.
Com fome, começo a rodar pelo centro, vazio e vejo um Habib's aberto! Ufa! São 13h18.
Entro no restaurante com minha capa de chuva amarelo fluor... nem preciso dizer que todo mundo ficou olhando. Tiro a parte de cima da capa e a jaqueta, como essas coisas esquentam! Consegui almoçar!
Quando estava me encaminhando pra rodovia novamente, vejo um Subway aberto também... mas não tinha como adivinhar! Paro num posto pra abastecer e sigo viagem, ainda chove na estrada!
Pego a BR 101 e a chuva vira garoa e para. O tempo tá nublado ainda. A estrada está razoavelmente tranquila.
Pego o acesso pra São José e rezando pro GPS me levar pro lugar certo. E ele me leva quase certo de novo! E mais uma vez, o endereço tava certo, mas a altura errada! Chego as 16h20.
  
Hotel Restaurante Werlich - Rua Elizeu Di Bernardi, 637

Quarto médio, ar-condicionado mas sem frigobar... putz... vou ficar 2 noites aqui e vou beber água "quente". Pia sem bancada, tv de tubo de 14 polegadas com controle remoto defeituoso. Não dá pra abrir a cortina, estou no 1º andar e a janela fica de "cara" pro estacionamento. O wifi é ótimo, sinal forte.
Quando faço check-in no FB, uma amiga minha da faculdade que eu não sabia que estava morando aqui me convida pra almoçar. E uma amiga de infância que eu sabia que morava aqui também quer me ver. A segunda-feira será agitada! Marco almoço com uma e jantar com a outra.
Armo o varal, lavo e penduro as roupas de moto e a capa de chuva.
Vejo que tem uma BMW F800 GS estacionada debaixo de um toldo e penso: "Pô, queria deixar minha moto debaixo do outro toldo." E pra minha suspresa o rapaz da recepção me pede pra parar debaixo do outro toldo pra livrar a vaga pra carro. (YES!!). Depois vi que o estacionamento "bomba" a noite por causa do restaurante. Ficava bom para os 2 estacionar a moto ali.
Vou até a recepção e pergunto se tem alguma padaria aberta... por sorte, na esquina tem uma 24h! Compro suco, água e vejo que tem uns lanches (vão ser meu jantar).

06/01 - Encontros e muito bate-papo em São José/SC


Acordo, tomo café (bom, variedade mediana), minha amiga já escreve confirmando o almoço, eu coloco no GPS o endereço da concessionária pois achei que o óleo e o fluido do radiador estavam baixos. Caminho confuso do GPS! Mas chego lá. Os fluidos não estão baixos, eu que não alinhava a moto direito pra olhar! Mas com a moto quase batendo os 5k, resolvi trocar o óleo.
Quando o serviço termina, começa a chover! Putz! Espero a chuva passar e vou encontrar minha amiga, por sorte era ali perto, praticamente uma reta só, demoro um pouco pra encontrar o lugar, fica meio escondido, mas dá tudo certo, paro no estacionamento do trabalho dessa minha amiga da época da faculdade, entramos no carro dela e vamos almoçar.
Ela me leva pro lugar preferido dela em São José, a praia de Itaguaçu, ou praia das Bruxas. Linda, mas imprópria pra banho, uma pena! Vamos caminhando e conversando... são décadas sem se ver! As horas voam e ela tem que voltar a trabalhar! Paramos num Subway pra almoçar e vamos embora. Nos despedimos, pego a moto e volto pro hotel, dessa vez o GPS fez um caminho menos esquisito.





Volto pro hotel e já começo a arrumar as coisas, pois não sei a que horas vou voltar do jantar e tenho estrada no dia seguinte.
Passo na padaria pra comprar água, suco e isotônico e esperar minha amiga de infância chegar.
Ela atrasa, e consigo deixar tudo bem ajeitado, faltando poucas coisas pra fechar a mala maior.
São mais horas e horas de bate papo, outra que são décadas sem contato! Promessas feitas de reencontro, retorno... enfim. Não vi a cara das praias de Floripa, mas estava feliz da vida de ter reencontrado com essas amigas de tanto tempo!
Agora sei que quando voltar pra SC tenho que reservar mais dias!

 

 07/01 - São José - Lauro Muller - Urubici - 290km


Rotina de praxe, café, bagagem, fresca. Tempo nublado e o Instaweather diz que tá chovendo em Lauro Muller, saio as 10h24.



Com chuva, ou com sol, tenho que ir! Pego a BR 101 e sigo em direção a Tubarão, a viagem segue tranquila, sem chuva, até próximo a ponte que atravessa a Lagoa do Imauri, trecho em obras, congestionamento e vou me esgueirando pelo corredor.
Com tantas obras feitas o GPS fica todo confuso pois as vias não batem mais (em várias rodovias foi assim).
Com essas confusões do GPS acabei perdendo a entrada pra Lauro Muller e tive que fazer o retorno alguns km pra frente.
Céu limpo, e as 13h35 chego em Lauro Muller. Preciso almoçar!



Vejo um local simpático na beira da estrada e paro, sol a pino! E não tem NADA que um vegetariano possa comer (tudo tinha, carne ou frango!). Peço um suco e almoço minhas barras de cereais pois naquele horário tudo deveria estar fechado pro almoço no centro.
Sigo em frente pra pegar a Serra do Rio do Rastro, acabo nem prestando atenção se tinha restaurante aberto na cidade.
E a Serra começa, UAU! Que coisa linda! Curvas muito fechadas, pista estreita de mão dupla e em alguns trechos a montanha parece que vai te engolir... não dava pra conter os "uaaaaau!" dentro do capacete! Em outros momentos parece que a montanha vai te jogar barranco abaixo.
Pego somente 2 caminhões no caminho, o primeiro demoro um pouco pra conseguir ultrapassar, o segundo dou sorte e pego ele num trecho fácil de fazer ultrapassagem.





























 
Chego no mirante as 14h40. Fui abençoado com o céu limpo que proporcionou essa vista maravilhosa! Dizem que o mais comum é ter muita serração. Dá vontade de descer e subir de novo!
No mirante tem quiosques e uma boa lanchonete, acabei "almoçando" ali e comprando adesivos da serra.
Encontro poucos motociclistas por ali, outros mais chegaram pouco antes d'eu ir embora.
Não é uma serra pra fazer as curvas em velocidade, nem dá, é pra curtir e principalmente sentir cada pedaço!
Com certeza volto pra percorrê-la mais uma vez! Não dá pra descrever com exatidão, o que se sente ao percorrer essa serra de moto.

Ainda em êxtase, sigo pra Urubici, quando acesso a SC 110 (Estrada São Joaquim), outra grata surpresa, asfalto novo! Parece um tapete! Curvas boas!
Quando entro em Urubici, a bateria do celular acaba e fico sem GPS! E começo a rodar... putz, não consigo lembrar da foto da pousada no Street View. Várias ruas tem nomes parecidos! Resolvo perguntar pra um morador... ele me joga numa avenida com sobrenome parecido, mas não é o endereço certo.
Dou meia volta, paro num posto e pergunto o endereço certo... putz, passei em frente quando fiz o retorno!
E as 18h, finalmente encontro a pousada, na verdade uma casa que foi "transformada" em pousada.


Pousada da Célia - Rua Rodolfo Andermann, 1010

A dona da pousada me recebe e me oferece uma vaga coberta pra guardar a moto.
Ela me mostra o quarto, uma suite simples, sem ventilador (socooorrrroooo!).
Lavo e penduro as roupas, coloco roupas frescas e saio em busca de um mercado e algum lugar que eu possa jantar.
Encontro o mercado, compro suco, água e isotônico e vejo uma lanchonete/restaurante, parece que tá aberto mas não tem ninguém lá dentro. Entro e pergunto se já estão servindo, e dizem que sim, a cidade tá vazia de turistas. Peço um lanche, fiquei com receio de pedir um prato e demorar uma eternidade pra ficar pronto.
Devidamente alimentado, retorno pra pousada.
Quando posto no FB, meus amigos que já tinham feito a Serra, me perguntam se vou fazer a Serra do Corvo Branco... eu digo que não e eles quase me matam.
Resolvo refazer " a agenda" e colocar a Serra no percurso.
A quantidade de pernilongos é grande e durmo mal, os aparelhos de tomada não deram conta e o calor no quarto contribuiu pra noite mal dormida.

08/01 - Uribici - Grão Pará - Blumenau - 370 km


Café da manhã simples, mas nada ruim, fecho as malas e amarro as bagagens. Quando vou acertar a diária começo a conversar com a D. Célia e ela me dá umas dicas sobre onde ir e o que fazer. Pra subir no Morro da Igreja/Pedra furada tem que pegar uma autorização, e ela me indica o lugar. Saio as 10h15 vou até o local e pego a autorização.
Me encaminho pra Serra do Corvo Branco (eu ia descer e subir a serra e depois visitar o Morro da Igreja e não seguir até Grão Pará). No caminho vejo o acesso ao Morro da Igreja e decido visitá-lo primeiro, é uma estrada relativamente longa, estreita e em alguns trechos o pavimento é bem ruim, ela termina numa base militar.
As 11h15 chego ao topo, a vista é estonteante, e mais uma vez, fui abençoado pelo bom tempo! Só tinha a minha moto lá em cima, só quando fui embora que apareceu mais uma.













Pedra Furada
Depois de contemplar a paisagem, meditar sobre a grandiosidade da natureza (não vou filosofar sobre isso aqui, não se preocupem!), resolvo seguir meu caminho até a Serra do Corvo Branco.
A estrada é boa, segue vazia, bem sinalizada... de repente o asfalto acaba e começa uma estrada de terra. É de repente mesmo, não tem aviso nem nada!



Não é uma estrada 100% de chão batido, uns trechos têm pedras e segue por alguns km.
Finalmente as 12h30 chego na boca da serra!










Pode não parecer mas é MUITO íngreme!


É como descer de um andar pro outro numa rampa curta.







Quando o asfalto acaba é essa a visão.




Pra quem tiver paciência esse é o vídeo da descida da Serra do Corvo Branco.

Não sei que coragem foi essa de me enfiar sozinho, sem dominar 100% da moto, numa estrada que eu não sabia em que condições estaria e se eu conseguiria pilotá-la sem cair!
Deus me segurou com certeza! A roda traseira escorregou várias vezes, a roda da frente se enfiou nos vãos das pedras e foram aonde as pedras mandaram (isso me assustou, cheguei a parar pra engolir o coração que saiu pela boca!)
Logo após a descida vem uma estrada de terra com vários trechos em obras, uns 40km de terra! Em vários momentos tive vontade de voltar... mas subir aquela serra toda detonada? Decidi continuar...parece não ter fim! Cruzo com caminhões, tratores e vou comendo poeira! Pilotando devagar, a roda da frente escorregando, a de trás patinando em alguns trechos, chacoalhando nos buracos e pedras.
Finalmente encontro civilização, não lembro nem que cidade era, mas apesar de construções novas estava tudo fechado... feriado?! ah, sim, hora do almoço! As 14h10 chego em Grão Pará! Azul de fome! Encontro um posto com loja de conveniência (que benção!) e com salgado de palmito! Olho minhas roupas... estão marrons, estou coberto de poeira!
Mal termino de comer e começa a cair um temporal! Espero passar, parece ser chuva de verão.
Começo a pegar o caminho pra Blumenau, de repente cai outra tempestade! Sigo pela estrada até que encontro um boteco com uma parte coberta com mesas, estaciono a moto e corro pro coberto. Estou ensopado! Pelo menos lavou a roupa da poeira!
15 minutos depois a chuva passa, nem adianta colocar capa de chuva! Visto o forro corta vento da jaqueta pra não congelar e a luva de inverno por baixo da luva de moto e sigo meu caminho.
O GPS me joga na BR 101 que dá uma volta maior. Congestionamento na ponte e nos trechos em obras, chuva intermitente, clima abafado em alguns trechos.
Depois de toda a tensão da estrada de terra, a estrada parece que não tem fim.
As 17h25 paro no Graal Baleia, explodindo de vontade de ir ao banheiro, faltam 200km ainda! Vejo as cidades passando e fico pensando em parar em alguma delas e dormir, todos meus músculos doem, minhas mãos estão duras, as articulações doloridas.
Estrada movimentada, serra cheia, finalmente o acesso pra Blumenau! O GPS me faz seguir em direção a Gaspar, ok rambora, não estou em condições de checar se é realmente melhor por alí.
Anoitece, estou exausto, molhado e quando entro no centro de Blumenau a bateria do celular arreia, encontro o endereço do hotel, mas não acho o hotel, fico dando voltas e mais voltas, é uma avenida larga de trânsito rápido e não dá pra ver os números! 30 minutos rodando e NADA de ver o hotel! Paro numa rua paralela e ligo pro hotel perguntando se tem algum ponto de referência perto, o recepcionista me dá um ponto de referência que eu não consigo achar! BOOM Bagarai! Paro novamente na avenida do hotel, em frente a um shopping e ligo pro hotel dizendo onde estou. Ok 250m depois do shopping do lado esquerdo, abro a viseira, ela está tão engordurada e suja que não tava conseguindo ver nada direito, vou andando devagar, são quase 22h! E finalmente encontro o raio do hotel! Ele tem TUDO pra não ser visto, o letreiro de esquina apagado, eu vi o letreiro pela visão periférica e qdo parei tive que olhar pra trás pra me certificar que era ali mesmo.
Imagine encontrar esse hotel com esse luminoso apagado


Hotel Glória - Rua 7 de Setembro, 954

Paro a moto num recuo em frente e faço o check-in, o estacionamento fica na rua ao lado, pego o capacete e vou estacionar a moto, me indicam um local coberto e fora da área onde param os carros. Pego as bagagens e vou pra recepção pegar o resto das coisas que larguei no balcão. Não tem nada aberto, o recepcionista me entrega uns panfletos de delivery.
Quarto médio, ar-condicionado e frigobar. Chuveiro num box, vaso sanitário em outro, pia do lado de fora. Foi o hotel com wifi mais chato, daqueles que tem que acessar uma página na web pra colocar login e senha. Lavo as roupas, armo o varal e penduro as coisas pra secar, ligo o secador de cabelos do hotel pra secar as luvas e descubro que uma das luvas de inverno sumiu e não faço a menor idéia de onde eu possa tê-la deixado.
O cansaço é tanto que acabo não pedindo comida e "janto" os snacks que eu trouxe mesmo.

 

09/01 - Blumenau - Curitiba - 215 km


Como o trajeto era mais curto e depois da pauleira do dia anterior, decido dormir até mais tarde, meia hora antes do café da manhã terminar, descançar, almoçar em Blumenau e ir para Curitiba. Café da manhã colonial, muita variedade.
O hotel tem um restaurante, arrumo as coisas, carrego a moto e vou almoçar, restaurante bom, por quilo, depois de dias almoçando porcarias, finalmente como comida de verdade no almoço!
As 12h56 rumo à Curitiba, dia claro e vou pra estrada, no caminho nuvens de chuva... no início da serra as 15h15 começa o temporal! Vejo um restaurante com estacionamento coberto na altura de Guaruvá e espero o temporal passar. Aproveito pra comer uma barra de cereais, tomar água e fazer um pips.



30 minutos depois a chuva diminui, mas não passa, coloco a capa de chuva e continuo o caminho. Então a luz da gasolina acende! Momentos de tensão, lembro de ter lido uma placa que o próximo posto seria somente a 40km. Caraca, será que chego lá? Subindo a serra a moto bebe mais! Diminuo a velocidade pra poupar combustível... 2 barrinhas no marcador. Mas antes de uma das barrinhas apagar, aparece um posto! UFA! Tinham 4 litros de combustível ainda.

Quando entro em Curitiba, o céu está limpo, sol a pino e calor! A capa de chuva começa a me assar por dentro! Paro num posto mais acessível e acabo com o tormento do calor!
Trânsito pesado! Que raios fui escolher um hotel no centro? Chego no hotel as 18h, por sorte o recepcionista estava do lado de fora e pergunto onde é o estacionamento.
Bastante prestativo, quando entro no estacionamento, esse mesmo funcionário está lá e me ajuda a levar as malas.

Curitiba Palace Hotel -Rua Desembargador Ermelino de Leão, 45

No check-in descubro que o estacionamento é pago à parte e o valor pra moto é o mesmo que pra carro, ruim isso!
O quarto é enorme, ar-condicionado, frigobar, secador. Pergunto pro funcionário se alguma coisa fica aberta próximo do hotel pra jantar, e ele diz que não, mas tem restaurante no hotel e serviço de quarto.
Peço uma "pizza" (massa de supermercado com molho de tomate e queijo).
Arranjo as coisas pra sair cedo no dia seguinte pois a jornada vai ser longa!

 

10/01 - Curitiba - Morretes - Capão Bonito - 375 km


Acordo razoavelmente cedo, o cansaço tornou difícil ouvir o despertador! Tomo café (bom, variado), amarro a bagagem e saio, são 9h40.
Trânsito, muito trânsito! E o GPS me faz dar uma volta imensa! Céu limpo, sol e calor! Chego em Morretes derretido de calor, que cidade abafada! Acho uma sombra, me hidrato e pego a Estrada da Graciosa, o calor era tanto que eu queria ir embora dali o quanto antes e voltar a tomar vento. Uau! MUITAS curvas! Estrada de paralelepípedo...imagino o que é pilotar aquilo na chuva! Acabei errando na programação do time lapse da câmera que estava presa na moto e acabei sem registro (boa desculpa pra voltar lá de novo!).


Não fui eu que tirei essa foto, mas mostra como é essa estrada linda!

Um pedaço da Régis, trânsito pesado e bora subir o Rastro da Serpente, mais 800 curvas! Sol inclemente!
Acho uma sombra em Adrianópolis pra me hidratar e comer uma barra de cereais, pilotar nesse calor é de F*&¨r!
Chego em Apiaí as 16h, derretido, desidratado! O posto que vende adesivo e certificado está em reforma!

Em Apiaí o GPS enlouquece e começa a fazer um caminho louco! Quando me deparo com uma rua de terra, paro, e volto pra praça da placa e sigo pelo caminho que fiz quando desci a serra uma semana atrás.
Paro num mercado pra comprar suco e isotônico, aproveito pra comer umas barras de cereais (sem vontade de comer comida de tanto calor). 
Quando entro na estrada certa, o GPS se alinha e retoma o caminho certo.
Chego em Capão Bonito as 18h30, destruído de cansado! Mas paro no posto pra abastecer.

Entro no hotel (o mesmo da outra vez), descarrego as bagagens e vou ver o que tem ali perto, pois vi que no posto tinha uma lanchonete.
Aproveito pra conversar com o cara do Portal (bar temático da Serra do Rastro da Serpente) e ver se ele tem adesivo e certificado....também está sem!
Compro um lanche pra viagem na lanchonete do posto pra comer no fresquinho do quarto.
Volto pro hotel pra descansar, comer e dormir!

11/01 - Capão Bonito - São Paulo - 230 km


Conforme a viagem transcorria, meu amigos iam acompanhando via FB, e eu sugeri que eles viessem me "resgatar" em Capão Bonito... e eles toparam!
Eles viriam pra cá, almoçaríamos no restaurante do hotel e voltaríamos pra Sampa.
Acordei mais tarde, tomei o café com calma, e fui arrumar as bagagens, descansar e ficar conferindo o FB pra ver aonde eles estavam.
Ansiedade! Terminei de fechar as malas, amarrei a bagagem na moto e fiquei esperando eles fazerem o check-in pra ver quanto tempo eles iriam levar pra chegar.
Quando achei que já tinha dado o horário, desci pra fazer o check-out são 13h (tive sorte de poder estender o horário do check-out pra esperá-los no quarto). Termino de descer as escadas da área dos quartos e vejo eles descerem a rampa do estacionamento. Que imagem bacana! Depois de mais de 3000km pilotando sozinho, vejo meus companheiros de tantos passeios chegando! Eles iam pilotar 500km só pra me buscar! Me emocionei!
Invasão de motocas no estacionamento!


A cambada toda reunida!
Hora do rango e de contar as histórias!


No posto abastecendo as motocas dos amigos.


Retronando - Quase lá - Araçoiaba da Serra


Última parada para despedidas e cada um pra sua casa.


Chego em casa as 19h50 feliz, e exausto! Viagem sem incidentes! Pra uma estréia solo foi bom demais! Agradeço a Deus por tudo ter transcorrido bem!

Conclusões e dicas:


Se eu fosse voltar no tempo e repetir a viagem, faria algumas coisas diferentes, a primeira delas seria intercalar entre hotéis de pouso (1 noite) e hotéis em cidades bacanas pra conhecer com 2 noites ou mais. Acabei escolhendo hotéis perto dos locais que eu queria visitar nas cidades, achando que ia conseguir passear no dia em que chegasse nelas... lêdo engano, depois de horas na estrada, a única coisa que vc quer fazer é comer e relaxar, no máximo uma caminhada light perto do hotel. Por conta disso acabei pegando trânsito demais pra entrar e sair das cidades sem conhecê-las de fato.
Por causa da tocada louca depois de São José/SC - dorme-acorda-pilota, dorme-acorda-pilota, por vários dias seguidos, tive L.E.R. logo que cheguei em Sampa, uma semana de molho, sem pilotar, à base de remédios, com dores nas articulações dos dedos e mãos. Além do esforço repetitivo, minha falta de hábito e experiência contribuíram pra lesão.
Dava pra ter levado menos roupas, roupas easy-care secam rápido mesmo... não levei em conta que poderia lavar roupas no tempo que fiquei em Juiz de Fora. As roupas que lavei lá foram usadas novamente e algumas roupas ficaram sem uso.
Deixe espaço livre na mala pra comprar algumas lembranças, acabei economizando uns cascalhos, mas não comprei nada das cidades que visitei.
Lamentei muito não ter levado minha mochila de hidratação, no calor que fez ia ser um bálsamo beber água enquanto pilotava.
Os próximos hotéis precisam ter ar-condicionado, wifi e frigobar, ainda mais nessa época do ano. O ar-condicionado retira a umidade do ambiente e consequentemente das roupas e elas secam mais rápido.
Os snacks foram salvadores - amendoim, castanhas e cookies integrais quebram um galhão naquela fome fora de horário e fizeram as vezes de jantar em Blumenau. As barras de cereais foram fundamentais nessa jornada, deixava-as sempre à mão e pra evitar ficar sem, levei muitas na mala, eu não podia contar que fosse encontrá-las em todas as lojas de conveniência dos postos na estrada.
Procurar por fotos dos hotéis e pousadas e colocá-las no celular, isso torna mais fácil encontrá-los visualmente pq o GPS erra mesmo!
Estudar o caminho na noite anterior usando o Google Maps, confiei demais no GPS e acabei rodando mais do que devia. Meu próximo investimento será um GPS pra moto que eu possa planejar e salvar as rotas, ficar na mão de um software foi um erro!
Além do meu celular pós-pago, levei 2 pré-pagos pois a gente nunca sabe quais operadoras funcionam e quando vamos precisar, em Grão Pará meu pós-pago não conectava à internet, fiz o check-in em um dos pré-pagos. Nas 2 vezes que fiquei sem bateria, foram os pré-pagos que me ajudaram. Mas cometi a burrada de não atualizar o software do GPS em um deles e acabei ficando sem GPS nenhum quando a bateria do celular/GPS acabou em Urubici e Blumenau.
Verificar se o carregador 12v da moto consegue alimentar a bateria do celular/GPS de maneira eficiente - não fiz isso e acabei sem bateria.
Ter deixado todos os hotéis e pousadas reservados foi um sossego, chegar numa cidade e ficar correndo atrás de vagas é um tormento desnecessário.

A moto - Triumph Tiger 800XC

A moto foi excepcional! Enfrentei qualquer terreno que aparecia na frente, mas trocar os pneus por uns de uso misto seria melhor, nas estradas de terra os pneus originais escorregavam muito nas pedras e na terra fofa.
Tem motor de sobra, a suspensão é um primor, o banco não é dos piores mas incomodam depois de 1h30 de pilotagem (preciso ficar alternando entre sentar mais pra trás e mais pra frente).
O que foi realmente um incômodo foi que a roda traseira joga MUITA sujeira no bauleto, o bocal da chave fica cheio de sujeira (não sei se isso acontece com todas as BTs).
A autonomia dela na estrada foi boa variando entre 18 e 20 km/l raramente encontrando gasolina podium nos postos.
Ter rebaixado a moto para que eu pudesse apoiar melhor os pés no chão dificultou estacioná-la pois ela fica muito reta no descanço lateral, precisei pensar muito em como e qual melhor posição pra parar a moto. Vou checar na CC se o descanço da 800 (que é mais baixa que a XC) é mais curto e ver qto custa pra trocar.


A Câmera - Panasonic Lumix DMC-TS4

Apesar de não ser uma GoPro, a câmera funcionou super bem e fez boas filmagens mesmo presa na moto - o ideal é prender ao piloto pois treme menos, mas não encontrei um bom suporte e ela é pesada demais pra prender no capacete.
Me arrependo de não tê-la usado mais intensamente nas estradas.


Software de GPS - Sygic Navigation - instalado num Android


Apesar de ter sido atualizado recentemente, muitas estradas estão com erros e alguns comandos de voz não são precisos e é necessário olhar a tela pra entender, um exemplo: quando é preciso pegar uma alça de acesso o GPS diz: "mantenha-se à direita", ele só entende as saídas que são numeradas, essas sim ele indica corretamente e até sinaliza a direção da cidade: "pegue a saída X - Indaiatuba (p.ex)".
Rotas multiponto não funcionam, ele perde a referência, e refaz o caminho ignorando o ponto do meio. Quando fui pra Capão Bonito e queria passar por Morretes, num determinado momento ele começou a me mandar voltar por onde tinha vindo, perdi quase uma hora de viagem. Tive que primeiro fazer a rota pra uma cidade, depois pra outra.
Foram poucas as numerações de ruas que estavam corretas, eu cheguei "perto" dos hotéis na maioria das vezes.
Ele tem a opção de "desenhar" a rota, mas até hoje não consegui fazer funcionar.
Ele enlouquece "do nada" e muda a rota radicalmente, por isso é melhor estudar bem a rota e ignorar essas panes que depois ele se acerta. Quando estava indo de Morretes pra Capão Bonito, na cidade de Apiaí ele mudou a rota radicalmente e insistia em me jogar numa estrada de terra. Na dúvida, siga as placas ou pergunte.
Preciso realmente investir num GPS pra moto pra fazer uma viagem longa dessas.


Eu nisso tudo


Pensando muito em tudo isso, foi realmente uma loucura fazer essa viagem, principalmente por ter pouco mais de 1 ano de habilitação e ter pilotado minha primeira moto com marchas, pesada e com pouco apoio nos pés por 3 meses só nos finais de semana e enfrentar sozinho 3600km de estrada.
Dei muito trabalho para meus mentores! Deixei meus pais apreensivos e meus amigos preocupados em alguns momentos.
Me impus um desafio um tanto grande, tive muito medo de enfrentá-lo, pensei em inventar uma desculpa pra não fazê-lo, mas fui em frente.
Eu ainda tenho muito o vício de viajar de carro, quero chegar logo, podia ter parado mais pra aproveitar a vista, tirar mais fotos, mas tb não sei se o sol e o calor atrapalharam essas paradas extras, quem anda de moto sabe bem o calor que dá "até na alma" quando a gente para a moto no sol, o vento para e todo o calor que se acumulou no corpo depois de horas pilotando sob o sol, parece que sobe de uma vez só. Se eu tivesse ido com mais alguém, provavelmente seria forçado a parar mais, e possivelmente não acabaria lesionado no final da viagem, forcei os limites do meu corpo e ele respondeu, me deixou de molho!
Estou orgulhoso de mim, feliz e agradecido por tudo ter transcorrido bem. E agora já planejo as próximas viagens, tenho 10 dias em junho e 20 dias no final do ano, e se não arranjar companhia, vou solo de novo, agora eu sei que sou capaz.
Agradeço a todos os motociclistas que me cumprimentaram nessas estradas, foram poucos com quem cruzei mas quase todos cumprimentaram. Vocês não sabem como isso aqueceu meu caminho solitário, me senti menos máquina e mais motociclista.
É um gesto simples mas que nos conforta na estrada!

Espero que esse relato ajude alguém a se encher de coragem e determinação e partir para sua aventura solo. Não é um bicho de 7 cabeças, mas é preciso muita prudência, atenção e planejamento. Respeite seu corpo, conheça os limites de sua máquina e tenha em mente que você não precisa chegar rápido, nem bater recordes de distância percorrida sem sair de cima da moto, o principal objetivo é chegar inteiro, leve o tempo que levar.

Motoabraços a todos e boas estradas!

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